quinta-feira, 18 de setembro de 2008

De hoje não passa.

De hoje não passa.
Enchi os pulmões de ar, punhos serrados, de hoje não passa.
Ainda faltavam algumas horas para a largada.
Levantei da cama, cumpri os rituais costumeiros que faço nas manhãs das corridas e sai, ou melhor, saímos, pois a corrida acaba envolvida também a família.
O dia estava lindo, o sol parecia que não ia deixar por menos. Era um dia literalmente de praia.
Aos poucos os atletas iam chegando, expectativa aumentando junto com a adrenalina.
Autorizada a largada, saímos todos.
De imediato colei junto ao corredor que o denominei de coelho. O coelho é aquele atleta que procura dá um ritmo mais veloz a corrida onde normalmente ele faz parte de uma equipe para que um determinado corredor que também pertença a essa equipe, depois possa alcançar e ultrapassar o coelho almejando a vitória ou uma melhor colocação.
Comigo isso nunca funcionava, cada corrida após seu final me dava sempre uma grande frustração, mesmo que a cada participação o meu tempo apresentava um melhor desempenho o que para mim não era o bastante.
O desafio foi aumentando, mas havia escolhido aquele dia, aquela prova para alcançar, ultrapassar e quem sabe dá uma bicuda no coelho.
Eram apenas dez quilômetros.
Fomos correndo, correndo e passamos a marca dos cinco, seis, sete, quilômetros e como sempre nada do coelho cansar.
O percurso já era conhecido, embora isso não fizesse a menor diferença.
Faltavam apenas dois quilômetros e pensei ta chegando a hora. O coelho estava ficando mais próximo e dava para ouvir o esforço da respiração do maldito coelho.
Era uma corrida realizada pela Marinha do Brasil denominada Riachuelo.
Estava já nas proximidades do Morro do Gato, descendo uma ladeirinha em frente o Barra Vento, e ai definitivamente, de hoje não passa.
Corri, corri, corri, puxei uma bandeira do Brasil que havia colocado na minha cintura. Toda molhada de suor, segurei-a na mão e foi em direção a chegada.
Ataquei. Quando me lembro, sempre fico arrepiado.
A vontade foi tão grande que subestimei o quanto faltava para a chegada. Bateu-me um cansaço e comecei a ficar preocupado com o temido coelho.
Já dava para ouvir os gritos, vamos, vamos, passa ele.
A essa altura do campeonato o esforço já era tamanho que pensei:
Só ta faltando tropeçar no diabo do tapete da chegada e o coelho passar por cima de mim.
Finalmente a minha determinação foi maior. Desfraldei a bandeira, cruzei a linha de chegada e ganhei a corrida para o coelho.
Um detalhe que para essa história não teria muita importância se não fosse à idade do coelho.
Ele tinha 55 anos, 10 anos a mais do que eu. Chamava-se Dr. Gilberto que por um bom tempo sem saber, foi um grande incentivador para que até hoje eu continue correndo e ultrapasse os meus desafios.
A ele sou eternamente grato, e a quem dedico essa minha história.


Autor: Samuel Moreira


.

Um comentário:

Anônimo disse...

Samuel, meu amigo. Assim as pessoas que correm.Essa estoria do coelho é hilária. faz uma semana que descobrir blog do Samuel, e adorei.. . um abraço,

cristiane Lopes
cristianelopes@ig.com.br