quinta-feira, 18 de março de 2021

Ganhei do coelho na corrida

 

Estou reeditando textos que havia publicado a algum tempo, mas que reativam as minhas energias para este momento que estamos passando.

No conto abaixo a história de um começo que me levou a fazer com que após alguns anos ainda consiga achar determinação, motivação e disciplina, a sempre procurar o meu melhor.

Boa leitura. 

Enchi os pulmões de ar, punhos serrados, e de hoje não passa.

Ainda faltavam algumas horas para a largada.

Levantei da cama, cumpri os rituais costumeiros que faço nas manhãs das corridas e sai, ou melhor, saímos, pois a corrida acaba envolvida também a família.

O dia estava lindo, o sol parecia que não ia deixar por menos.

Era um dia literalmente de praia.

Aos poucos os atletas iam chegando, expectativa aumentando junto com a adrenalina.

Autorizada a largada, saímos todos.

De imediato colei junto ao corredor que o denominei de coelho.

Definição de um coelho extraído do Wikipédia, a enciclopédia livre.

Geralmente usado para provas de meia e longa distância, ele estabelece um ritmo forte pré-planejado que leva os demais competidores a um recorde desejado, geralmente mundial.

Os "coelhos" puxam o grupo de atletas até determinada distância do percurso total num tempo especificado, colocando-os em condições de dali em diante manterem o ritmo e alcançarem os tempos desejados. Provas de longa distância em ruas e estradas, como as maratonas, geralmente tem mais de um coelho, que abandonam a prova após determinada distância, mais comumente na metade dela. Vários especialistas de atletismo e puristas do esporte criticam a utilização de coelhos em tentativas de quebra de recordes mundiais em maratonas, por deixarem os demais atletas numa zona de conforto tirando a natureza competitiva das corridas, algo que não existe, por exemplo, em provas oficiais como os Jogos Olímpicos e o Campeonato Mundial de Atletismo. Alguns destes críticos, chegam a considerar o artifício desonesto.

Comigo isso nunca funcionava, cada corrida após seu final me dava sempre uma grande frustração, mesmo que a cada participação o meu tempo apresentava um melhor desempenho o que para mim não era o bastante.

O desafio foi aumentando, mas havia escolhido aquele dia, aquela prova para alcançar, ultrapassar e quem sabe dar uma bicuda no famigerado coelho.

Eram apenas dez quilômetros.

Dada a largada.

Fomos correndo, correndo e passamos a marca dos cinco, seis, sete, quilômetros e como sempre nada do coelho cansar.

O percurso já era conhecido, embora isso não fizesse a menor diferença.

Faltavam pouco menos dois quilômetros e pensei esta chegando a hora. O coelho estava ficando mais próximo e dava para ouvir o esforço da respiração do maldito coelho.

Era uma corrida realizada pela Marinha do Brasil denominada Riachuelo.

Estava já nas proximidades do Morro do Gato, descendo uma ladeirinha em frente o Barra Vento, e ai definitivamente, de hoje não passa.

Corri, corri, corri, puxei uma bandeira do Brasil que havia colocado na minha cintura. Toda molhada de suor, segurei-a e foi em direção a chegada.

Ataquei.

Quando me lembro, sempre fico arrepiado.

A vontade foi tão grande que subestimei o quanto faltava para a chegada.

Bateu-me um cansaço e comecei a ficar preocupado com o temido coelho.

Já dava para ouvir os gritos, vamos, vamos, passa ele.

A essa altura do campeonato o esforço já era tamanho que pensei:

Só esta faltando tropeçar no diabo do tapete da chegada e o coelho passar por cima de mim.

Finalmente a minha determinação foi maior.

Desfraldei a bandeira, cruzei a linha de chegada e ganhei a corrida para o coelho.

Um detalhe que para essa história não teria muita importância se não fosse à idade do coelho.

Ele tinha 55 anos, 10 anos a mais do que eu se chamava Dr. Gilberto, que por um bom tempo sem ele saber, foi um grande incentivador para que eu continuasse correndo e ultrapassando os meus desafios.

A ele sou eternamente grato, e a quem dedico essa minha história.

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